As pílulas anticoncepcionais e outros métodos hormonais são os preferidos da maioria das mulheres. Porém, vale observar seu uso em relação àquelas que passam por tratamento de tumores mamários, já que a função reprodutiva nesses casos fica comprometida devido à quimioterapia.

A função de um anticoncepcional vai além de evitar uma gravidez indesejada; ele pode ser também o responsável por tratar e prevenir algumas doenças. Por outro lado, a escolha inadequada do método pode fornecer aumento de risco de outras doenças, como o câncer de mama.

É o histórico familiar que define a escolha do método anticoncepcional, já que 20% a 30% das mulheres com tumor de mama têm pelo menos um parente com a doença e apenas de 5% a 10% têm predisposição hereditária. Se confirmada a doença, a gravidez deve ser evitada durante o tratamento, daí a importância ainda maior de um método contraceptivo.

Não é possível estabelecer os reais riscos da utilização de contraceptivos orais hormonais nesse período, mas eles são, de fato, contraindicados. Uma opção para esses casos é o dispositivo intrauterino com uso de contraceptivos de 2ª instância, que libera altas doses locais de progesterona, mas com baixo efeito sistêmico. Sabe-se que o dispositivo intra-uterino pode reduzir o risco de alterações endometriais em pacientes sob tratamento do câncer de mama, mas estudos ainda não comprovaram sua real segurança.

A preservação da fertilidade é um assunto a ser tratado em casos de mulheres em quimioterapia ou radioterapia ou ainda em mulheres acima de 35 anos. Para decidir qual técnica de preservação será aplicada, devem ser analisados fatores como idade, presença de parceiro, tipo do tumor, protocolo de radioterapia/quimioterapia utilizado e tempo disponível antes destes.

O tempo disponível antes do início da quimioterapia é um fator de grande importância para definir se há possibilidade de indução da ovulação e coleta dos óvulos, para que estes sejam congelados ou fertilizados, com consequente congelamento de embriões. Durante a quimioterapia não é aconselhável a estimulação da ovulação.

Nesse caso, há outras opções como a coleta de óvulos imaturos ou o congelamento de tecido ovariano. Entre as principais técnicas encontram-se o congelamento de embriões, o congelamento de óvulos, a estimulação ovariana e o congelamento do tecido ovariano.

Congelamento de embriões

É a técnica mais consagrada de preservação da fertilidade e também a que apresenta melhores taxas de gravidez. Óvulos obtidos usualmente através de estímulo ovariano são fertilizados em laboratório, e os embriões resultantes são congelados. Possui como principal desvantagem a fertilização prévia do óvulo, não possibilitando à mulher definir posteriormente o pai biológico de sua prole. Isto é, a mulher que realizará essa técnica deve ter um parceiro já definido ou utilizar esperma doado.

Congelamento de óvulos

É uma técnica promissora que vem se tornando opção principalmente para aquelas mulheres que não possuem parceiro. Os óvulos, no entanto, são mais sensíveis ao congelamento, gerando taxas de gravidez ainda inferiores.

Estimulação ovariana

É usualmente empregada para que se obtenha o crescimento de mais folículos e, assim, mais óvulos maduros possam ser obtidos. O protocolo padrão se inicia no princípio da menstruação quando, após ultrassonografia e dosagens hormonais, aplicam-se gonadotrofinas por via subcutânea. Após aproximadamente dez dias aspiram-se os folículos por via transvaginal sob sedação. Em muitas situações a estimulação ovariana não é possível, seja por falta de tempo para o procedimento, pela presença de metástase ovariana ou até pelo medo da paciente em usar hormônios.

Congelamento do tecido ovariano

Esse é um método experimental. O ovário – ou parte dele – é retirado por laparoscopia e congelado. O principal benefício dessa técnica é a não necessidade de estimulação ovariana, porém o resultado é ruim ou até ausente (principalmente para o ovário inteiro). Os óvulos ou embriões congelados devem ser vistos como uma reserva ou seguro, que devem ser utilizados se não for encontrada outra maneira para possibilitar a gravidez.

Caso a mulher com tumor mamário tenha realizado algum tratamento de preservação da fertilidade e deseja engravidar, o primeiro passo a ser dado é a liberação por parte do mastologista e oncologista. Após, há uma análise da fertilidade do casal, considerando principalmente a idade da mulher, regularidade menstrual, tempo em que tenta engravidar e toda possível causa de infertilidade não relacionada ao tratamento do tumor.

No diagnóstico de infertilidade, busca-se encontrar a causa e tratá-la especificamente, seja com medicamentos ou com cirurgias, antes de partir para métodos de reprodução assistida, como os métodos de preservação da fertilidade acima apresentados, que serão empregados no tratamento de fertilização in vitro.

Após o tumor de mama, caso a mulher não tenha óvulos viáveis, ainda é possível o uso de óvulos doados (ovodoação) ou a adoção de uma criança. Na ovodoação obtêm-se óvulos de uma doadora anônima e a fertilização ocorre em laboratório com o esperma do parceiro ou doado. Os embriões formados são posteriormente transferidos para o útero da receptora. Essa é uma técnica consagrada e segura.